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ESPAÇOS: Museo Della Folia
Cavallerizza, Piazzale Verdi, Lucca
27 Fev > 18 Ago 2019
É no renovado espaço da Cavallerizza,
no belo interior muralhado da cidade de Lucca, que vamos encontrar o
Museo Della Folia. Penetrando no espaço expositivo, o visitante
vê-se imediatamente invadido por um conjunto de sons rumorejantes
que, ecoando num ambiente obscurecido e sombrio, concorrem para
mimetizar uma instituição de alienados. Neste cenário labiríntico
e despojado, está traçado um percurso sensorial composto por cerca
de 200 obras, entre pintura, fotografia, escultura, objectos vários
e instalações multimédia, que convidam à reflexão sobre o tema da loucura. Com uma filosofia próxima daquela que
preside à apresentação das colecções de Arte Bruta, o Museo
Della Folia ganha vantagem em relação àquelas na medida em
que aposta na contextualização “in loco” do processo de criação
artística em condições tão particulares, mediante a “oferta”
de um ambiente desumanizado e repressivo.
A mostra articula-se em várias
secções, abrindo com as pinturas e esculturas de alguns nomes
maiores da arte internacional, casos de Silvestro Lega, Fausto
Pirandello, Antonio Ligabue ou Francis Bacon, nelas se reflectindo um
conjunto de obras alucinadas e visonárias, frutos duma marcada
perturbação mental. Prossegue depois com “Stereoscopi”, onde
somos convidados a “visitar” o Hospital Psiquiátrico de
Mombello, local de internamento de Gino Sandri, Tarcisio Merati,
Fiore ou Venturino Venturi, entre outros, e cujas obras podem ser
igualmente apreciadas ao longo desta mostra. Outra instituição
psiquiátrica que pode ser “visitada” é o manicómio de Teramo,
hoje desactivado, e que nos é trazido pelas soberbas fotografias de
Fabrizio Sclocchini numa série designada “Gli assenti”. Sede de
testemunhos preciosos, as secções “Lettere mais spedite” e
“Stanza dei Ricordi” falam-nos de humilhação e dor, da
impotência e incredulidade daqueles que foram incriminados e
encarcerados sem outra culpa que não a de serem diferentes.
O quarto de Mario Tobino, dá-nos a
conhecer o psiquiatra que escolheu viver quase quatro décadas da sua
vida entre os 1040 “amigos” do Manicómio de Maggiano,
partilhando com eles o ar, a vida e o sonho. De Cesare Inzerillo pode
apreciar-se a escultura de grandes dimensões “Apribocca”,
réplica de modelo original também presente nesta mostra e que era
usado para administração forçada de medicação aos mais
renitentes. Também deste autor, “Griglia” é uma instalação
onde se recuperam as fotografias das fichas clínicas de alguns
doentes mentais. Entre os muitos autores presentes na mostra,
destaque ainda para Enrico Robusti e para o seu colossal fresco a
óleo, representando um barco apanhado pela tempestade, a bordo do
qual o visitante encontrará um conjunto de personagens grotescas e
dominados pela loucura. Uma mostra imperdível numa visita a Lucca,
um pretexto para reflectir sobre conceitos tão controversos como os da
normalidade e da loucura.
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