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domingo, 25 de novembro de 2018

VISITA GUIADA: "O Porto Regenerado"



VISITA GUIADA: “O Porto Regenerado”
Orientada por | César Santos Silva
Organizada por | Confraria das Almas do Corpo Santo de Massarelos
24 Nov 2018 | sab | 10:00


De acordo com os Census 2011, o Porto foi a capital de distrito com maior quebra da população residente nos últimos 35 anos, passando das 328.778 pessoas em 1981 para as 233.061 em 2011 e para uma população estimada de pouco mais de 214 mil em Dezembro de 2017. São dados que, se olhados friamente, vêm contrariar aqueles que apontam o turismo como o grande causador da debandada, pedindo que se recue aos anos 80 e 90 para se perceber o que mudou na economia portuguesa, a quantidade gigantesca de negócios que encerraram devido à proliferação dos centros comerciais, a forma como o património se degradou e o quanto se agravou o problema da segurança. É verdade que, a partir do momento em que o conjunto formado pelo Centro Histórico do Porto, a Ponte Luis I e o Mosteiro da Serra do Pilar foi classificado como Património Mundial pela UNESCO, a pressão colocada pelo turismo tem contribuído para acelerar este processo, aconselhando a olhar o fenómeno à luz duma nova variável cujo valor se aproxima já dos 4 milhões de hóspedes por ano e um crescimento percentual sustentado na casa dos dois dígitos. Porém, não é menos verdade que o Porto está a abandonar, rapidamente, o seu ar fechado, elistista, burguês e provinciano e vive hoje dias mais felizes, devolvendo-se ao mundo com um cunho marcadamente cosmopolita e apresentando-se como um lugar de convívio, de fraternidade e de liberdade.

Foi ao encontro do fenómeno turístico e das suas repercussões na imagem do “novo” Porto que a Confraria das Almas do Corpo Santos de Massarelos propôs, para a manhã de ontem, uma Visita Guiada conduzida pelo historiador César Santos Silva e que tomou o nome de “O Porto Regenerado”. Ao longo de duas horas e meia, os participantes foram convidados a olhar com atenção os edifícios e equipamentos que integram o coração da cidade e puderam perceber as enormes transformações sofridas ou em curso. Não é necessário um grande esforço para ver que as marcas deste processo estão por todo o lado: Nos bares e cafés que se estendem para a rua, na oferta de alojamento local em doses reforçadas, nas ouriversarias que viram casas de chá, nos bancos que são hoje hotéis, nas outrora fábricas que vão dando lugar a conjuntos de apartamentos, nas papelarias transformadas em galerias, nos cafés tradicionais que abrigam novos restaurantes “da moda” onde a comida de plástico é rainha ou nos belíssimos palacetes que albergam agora boutiques e lojas de toda a espécie.

Entre o antigo e o novo (ou renovado) mas sempre atento aos “pormaiores”, o grupo saiu dos Leões rumo à Praça de Carlos Alberto, seguiu pela Rua das Oliveiras e José Falcão, fez um pequeno desvio até ao Largo do Moinho de Vento, desceu a Rua da Fábrica até aos Aliados, cruzou Sampaio Bruno até Sá da Bandeira, atravessou S. Bento e percorreu a Rua das Flores até concluir esta visita no Largo de S. Domingos. Viu-se que os afectos ainda marcam a toponímia da cidade - no Piolho como na Praça de Santa Teresa, nos Leões como no Túnel de Ceuta - e que as mudanças não destroem o que a memória conserva. Que locais como o Cinema Lumière, o “showroom” da Fábrica de Cerâmica das Devesas, o quarteirão do Conde de Vizela, a Real Fábrica de Tabaco Portuense, o Banco Pinto de Magalhães ou o Restaurante Regaleira desapareceram, mas não a sua identidade. Tão pouco as suas histórias, que César Santos Silva, conversador incansável e profundo conhecedor da cidade, fez questão de associar aos locais visitados, recordando figuras como as do Rei Carlos Alberto ou Aurélio da Paz dos Reis, do escultor Henrique Moreira ou do arquitecto Marques da Silva, de Carlos Alberto Cabral e Madame Blanche, de D. Maria Borges e de muitos outros.

Paredes entaipadas, andaimes a perder de vista, empenas escoradas, interiores em profunda remodelação, tarjas que publicitam lojas e condomínios, reclames de gabinetes de arquitectura e hostels, montras que anunciam os seus produtos em várias línguas, alguns “gritos” de resistência e protesto e, sobretudo, muita gente, rua abaixo, rua acima, gente jovem e divertida que se exprime em espanhol, francês, inglês, russo, grego, mandarim ou swahili são as marcas do Porto regenerado. “Para o bem e para o mal”, como referiria, muito a propósito, o Professor César Santos Silva. É este o resumo de mais uma fantástica visita onde “tudo tem a ver com tudo” e da qual se retira o conselho a estar atento às marcas e aos efeitos da pequena-grande revolução que, por estes dias, acontece na cidade do Porto. Mas há mais marcas e revoluções prometidas para as próximas iniciativas da Confraria das Almas do Corpo Santo de Massarelos, algumas das quais decorrerão ainda este ano. Basta estar atento e ir consultando a página http://confrariacorposantomassarelos.pt/.

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