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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

ESPAÇOS: Museu Nacional do Azulejo


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ESPAÇOS: Museu Nacional do Azulejo
Rua da Madre de Deus, 4 – Lisboa
Horário | de Terça a Domingo, das 10h00 às 18h00
Ingressos | Bilhete normal 5,00 € (desconto 50% para visitantes com idade igual ou superior a 65 anos, portadores de cartão jovem e cartão de estudante). Entrada gratuita aos domigos e feriados, até às 14h00, para todos os cidadãos residentes em território nacional


Instalado no antigo Convento da Madre de Deus, fundado em 1509 pela Rainha D. Leonor, o Museu Nacional do Azulejo abriu ao público em 1971 e nele se encontra patente uma bela e vasta colecção de azulejos - expressão artística única identitária da cultura portuguesa -, desde a Idade Média até aos nossos dias. Distribuídos pelos três pisos do edifício, os objectos expostos convidam o visitante a familiarizar-se com os primórdios do azulejo (vocábulo que provém do árabe “al-zulaich” e que significa “pequena pedra polida”), as suas técnicas de produção e diferentes padrões, sem esquecer os mosaicos de chão. Na sequência da visita, percebe-se como, em meados do século XIV, uma nova técnica começa a ser empregue na azulejaria e que dá aos azulejos o aspecto que hoje conhecemos: a técnica da faiança ou majólica. Aí, vamos ao encontro de alguns dos mais belos exemplares desta época, com destaque para o painel de Nossa Senhora da Vida e para os frontais de altar, sem esquecer os padrões em voga, nomeadamente a ponta de diamante ou o padrão de camélia. A terminar a visita no piso mais baixo, a Igreja da Madre de Deus, a Capela da Rainha D. Leonor, o Coro Baixo e o Claustrim são espaços de enorme beleza e contemplação e onde os azulejos continuam a ocupar um lugar importante, rivalizando com os traços do barroco e com a talha dourada.

O segundo piso abre com a original Escadaria de S. Bento, na qual os azulejos se encontram cortados em losango, acompanhando a inclinação da escada. Azulejos de figura avulsa ou azulejos de padrão pombalino, o belo painel “Lição de Dança” ou o “Registo de Nossa Senhora do Carmo”, figuram entre os núcleos destacados neste piso, no qual a Capela de Santo António se apresenta como o espaço de maior solenidade e riqueza e onde se compreende, em toda a sua plenitude, a expressão “ouro sobre azul”. Embora nada tenha a ver com a azulejaria, aqui se pode apreciar um Presépio, da autoria de António Ferreira (inícios do século XVIII), um trabalho delicioso a exigir observação atenta e demorada. Ainda neste piso, podemos apreciar um muito curioso conjunto de sete painéis denominado “História do Chapeleiro António Joaquim Carneiro”, espécie de banda desenhada, com as respectivas legendas, dando conta da história de um rapaz pobre do campo e que, na cidade, se estabelece por conta própria na confecção de chapéus, casando com uma viúva rica e alcançando enorme fortuna. Finalmente, passeamos pela azulejaria no século XX, Querubim Lapa, Maria Keil, Cargaleiro, Jorge Colaço, Raul Lino, Júlio Resende ou Rafael Bordalo Pinheiro a imporem-se ao olhar do visitante.

No último piso, o espaço é quase integralmente ocupado pelo imponente “Painel da Vista de Lisboa”, uma das obras primas da azulejaria portuguesa e que, com os seus quase 23 metros de comprimento, ocupa duas paredes da sala. Atribuído a Gabriel del Barco (início do século XVIII), é talvez a peça mais valiosa do espólio do Museu e constitui um documento iconográfico da maior relevância para a história de Lisboa, revelando a mais completa vista da capital portuguesa, a partir do Rio Tejo, antes do terramoto de 1755. Estão aqui desenhados, a azul sobre fundo branco, catorze quilómetros de costa, desde Algés até Xabregas, onde se encontra representado o Convento da Madre de Deus. É possível identificar muitos outros locais que ainda subsistem nos dias de hoje, alguns alterados pelo efeito devastador do terramoto, e outros já desaparecidos, sendo este um dos poucos registos da sua existência. Mas nem só de palácios ou outros edifícios monumentais vive o painel, sendo possível nele observar o casario das gentes humildes – nomeadamente o Bairro do Mocambo, actual Madragoa, local onde laboravam boa parte das olarias de Lisboa -, os estaleiros de construção naval, o comércio no mercado da Ribeira, o movimento nos chafarizes, a actividade de um moinho de maré ou as viagens em coches ou liteiras, até às quintas de recreio em Belém e Alcântara. Remate perfeito duma visita fascinante, o Painel da Vista de Lisboa é também um convite à descoberta da capital, fazendo do Museu Nacional do Azulejo o ponto de partida ideal.

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