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terça-feira, 24 de julho de 2018

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Postais Ed. Silva Cerveira, Furadouro, princípio séc. XX”


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Postais Ed. Silva Cerveira, Furadouro, princípio do séc. XX”
Biblioteca Municipal de Ovar
Jul > Set 2018


O nº 572 da “Ilustração Portugueza” – edição semanal do jornal “O Século” -, datado de 5 de Fevereiro de 1917 [AQUI], presenteia-nos com um delicioso artigo de A. de C. sobre o bilhete postal, numa altura em que esta forma de comunicação conhecia um verdadeiro “boom”. Nele podemos ler que “quem o inventou – e o bilhete postal não tem mais de cincoenta anos de edade – descobriu, simultaneamente, a correspondencia dos que teem pressa e o flirt postal dos delicados. (…) O bilhete postal é a graça, o sorriso, a banalidade e o perfume, postos ao serviço da saudade, do negocio, da sociabilidade e do amor.

A história mostra que o postal ilustrado foi criado com propósitos fundamentalmente comunicativos. A primeira proposta de oficialização ocorreu em 1865, no V Congresso Postal em Paris, e em 1869 foi admitida a sua circulação enquanto formato legítimo de difusão de mensagens. Em Portugal, tudo indica que a autorização ocorreu em Outubro de 1877 e o sucesso do postal ilustrado foi quase instantâneo. Sobretudo nas duas primeiras décadas do século XX, o postal ilustrado foi difundido com grande afinco, o que fez deste período uma fase emblemática da história dos postais. O seu baixo custo, a enorme versatilidade temática e o desenvolvimento das técnicas de impressão de imagens fizeram com que também a publicidade reconhecesse o potencial dos postais ilustrados como ferramenta na comunicação de mensagens comerciais.

É nesta linha que se inscrevem as séries postais que, no início do século passado, foram postas a circular um pouco por toda a parte, atingindo na pacata vila de Ovar uma expressão deveras significativa. De inegável valor documental e histórico são as séries com as chancelas “Ramos & Camarão”, “Casa Carvalho”, “Santos Cunha”, “Casa Santos”, “Casa Delmar” ou “Silva Cerveira”, a última das quais apresentando colecções datadas de 1909 e 1913 e que constituem o objecto desta exposição patente na Biblioteca Municipal de Ovar. São quinze reproduções em grande formato que nos mostram um Furadouro muito diferente daquilo que é hoje, mas onde se percebem, a título de referências, alguns edifícios que ainda se encontram de pé e que ajudam o espectador a situar-se.

Os mais estudiosos procurarão ver naquelas imagens a verdadeira dimensão das comunidades piscatórias de outrora e as suas peculiaridades sociais e culturais; os mais nostálgicos escutarão os pregões das peixeiras, o rufar da caixa do Melindra, os gritos “à recaxia” das companhas do Maçaroca ou do Marage, o clamor da multidão com um lanço formidável ou a lengalenga do licitador; os sonhadores verão as proas dos barcos recortadas no horizonte, as artes de pesca a desenharem arabescos no areal, os bois mansos a puxar as redes ou os palheiros a servir de sentinelas ao crepúsculo; os mais atentos identificarão o edifício do Hotel Cerveira, verdadeira “jóia da coroa” do pequeno império de José Luis da Silva Cerveira, natural da Curia, um jovem que aos 20 anos inaugurava no Furadouro este magnífico prédio para a época e que oferecia, complementarmente aos serviços de hotelaria, “um restaurante, sauna, banhos frios e quentes com água do mar, café, uma muito procurada sala de jogos e até uma mercearia”. E que é o grande responsável por este legado que nos convida a recuarmos cem anos e a percebermos um pouco mais da nossa história.

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