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sábado, 19 de maio de 2018

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Retratos de Autores Portugueses"



EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Retratos de Autores Portugueses”,
de Do Carmo Vieira
Biblioteca Municipal de Ovar
18 Mai > 23 Jun 2018


Espraiamos o olhar por estes “retratos” como quem folheia com desvelo um livro querido, voltando pausadamente cada uma das páginas, as linhas impressas no papel a encontrarem correspondência na tela, nas linhas dos rostos dos retratados, marcas de vida intensa, imensa, plena. Na aparente serenidade da pose, Natália Correia esconde a vontade de gritar bem alto que “a desordem é necessária”, enquanto as rugas de Miguel Torga nos dizem “que belo é ter um amigo!”. E se o olhar de Zeca Afonso clama que “venham mais cinco”, a bondade no olhar de Sophia de Mello Breyner faz-nos sorrir ao lembrar que “mesmo que eu morra o poema encontrará uma praia onde quebrar as suas ondas”. Eugénio de Andrade, esse, diz-nos com veemência que “é urgente o amor”.

No realismo com que Maria do Carmo Vieira retrata cada um destes vultos da cultura portuguesa – pessoas que a acompanharam no seu percurso, que a influenciaram, que a inspiraram – reside a chave para que cada um possa ver para lá da simples composição pictórica. Fazendo uso das palavras da artista, aquilo que se evidencia em cada um destes oito retratos é a tentativa de “restituir à imagem visível, o invisível duma personalidade, num complexo conjunto de sinais como a força de um olhar, a passagem de um tempo que contém vivências, afectos... memórias”. Isso sente-se de forma clara na força com que aqueles olhos – todos os olhos (!) -, fitando-nos, convocam a emoção dum poema guardado num recanto querido da memória, dum concerto para sempre adiado ou dum encontro fugaz numa sala de teatro, as imponentes esculturas da “Yerma” a crescerem do palco e a invadirem os nossos corações.

Refira-se, enfim, que esta é a exposição certa no sítio certo. Locais inclusivos por definição, as Bibliotecas são pólos centralizadores das comunidades, espaços abertos à diversidade, fontes do saber por excelência. Ali se cultivam valores humanos fundamentais, se trocam experiências, se adquirem competências. Nesta homenagem que Maria do Carmo Vieira rende a estes grandes nomes das nossas artes e das letras (que podiam ser mais, que podiam ser outros), há uma homenagem implícita a todas as sedes do conhecimento e do desenvolvimento humano. Aqueles rostos ali retratados envolvem-nos com a força duma presença quase física, com a emoção do seu enorme humanismo, lembrando-nos o quão importante é o saber. Em fundo, a guitarra de Carlos Paredes tudo embala, estreitando público e artista(s) num abraço fraterno, emotivo, caloroso. Um abraço de agradecimento, também, a Maria do Carmo Vieira, pela sua arte e inspiração, pela dádiva da partilha. A ver, absolutamente, até 23 de Junho, na Biblioteca Municipal de Ovar!

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