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domingo, 18 de fevereiro de 2018

CONCERTO: Carminho



CONCERTO: Carminho
Cineteatro António Lamoso, Santa Maria da Feira
17 Fev 2018 | sáb | 22:00


Se me pedissem para eleger a melhor voz do fado em Portugal nos dias de hoje, aquela que melhor interpreta esta forma de estar tão nossa vestida de música, a resposta seria Carminho. Tal como dizia Pedro Alborán, as palavras na sua voz “arranham a alma”. Viver e sentir o fado intensamente, modelar a voz ao encontro das emoções mais vivas e ter uma presença em palco que dignifica o próprio fado são imagens de marca desta que é, inegavelmente, a maior embaixadora da nossa música.

Ontem, no Cineteatro António Lamoso, com casa cheia, a fadista confirmou uma vez mais o seu carisma, através duma revisitação dos seus álbuns “Fado (2009), Alma (2012) e “Canto” (2014), numa viagem ao que de mais puro há na sua arte. Acompanhada pelos músicos Luís Guerreiro, na guitarra portuguesa, Flávio Cardoso, na viola, Marino de Freitas, na viola baixo, Ivo Costa, na percussão, e Rúben Alves, nos teclados, acordeão e xilofone, Carminho encheu a sala com o olhar, o sorriso, o seu jeito único de dizer coisas sérias a brincar. A cantar e a bailar, falou de si e das suas origens, do excelente fadista que é o pai, de esquizofrenia e outras manias, de derbies, do tempo que passa a correr e que nos modifica sem darmos conta (“às vezes para melhor”), até da última corda da viola baixo de fado onde Marino de Freitas descansa o dedo. Hora e meia de fado do melhor, mas também de muita partilha e cumplicidade.

Apesar das músicas mais mexidas, como “Bom dia, amor”, “Saia rodada” ou “Bia da Mouraria” (fado criado por Ary dos Santos e Fernando Tordo para a voz de Beatriz da Conceição, mãe de Carminho), e que arrancaram palmas do público a compasso, o tom da noite foi de intimismo. “Escrevi teu nome no vento”, “As Pedras da minha rua”, “Senhora da Nazaré” ou “Chuva no Mar”, esta última com música da brasileira Marisa Monte, mostraram uma Carminho com o canto na alma, deixando o público totalmente rendido à sua arte. Mas foi com “As Minhas Penas”, um fado de D. António da Câmara e Carlos da Maia, que a fadista cantou “a cappella” já no “período de desconto”, que o Cineteatro “veio abaixo”. À emoção contida na voz nua de Carminho, respondeu o público com a maior ovação da noite. O momento mais alto dum concerto memorável!

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