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domingo, 7 de janeiro de 2018

LIVRO: "A Noite não É Eterna"




LIVRO: “A Noite não É Eterna”,
de Ana Cristina Silva
Edição de Maria do Rosário Pedreira
Ed. Oficina do Livro, Fevereiro de 2016


É ao encontro duma Roménia imune aos ventos da Perestroika que Ana Cristina Silva nos leva no seu livro “A Noite não é Eterna”. Nadia, uma jovem mulher, vem de perder o filho em circunstâncias particularmente dramáticas e obstina-se na sua sede de vingança, tendo como alvo o próprio marido, Paul. Do descontrolo inicial à racionalidade dos momentos seguintes, a mulher vê-se dividida entre a raiva e a impotência, tendo como pano de fundo o regime sanguinário e totalitarista do ditador Nicolae Ceauşescu.

A Noite não é Eterna” é um romance negro, tanto na sua aproximação literária ao sub-género do suspense, como nas emoções que o percorrem, pontuadas pela dor e pelo luto. Personificando em Nadia o vazio de todos quantos se viram despojados daquilo que tinham de mais íntimo e querido, Ana Cristina Silva leva mais longe o romance, ampliando essa sensação de angústia e sofrimento ao enumerar as arbitrariedades dum regime cujas elites tinham acesso a bens importados e viviam em edifícios de grande ostentação e onde a população sobrevivia em miséria evidente e as crianças eram abandonadas à sua sorte em orfanatos, antecâmaras de doença e morte.

Desta abordagem da situação social e política da Roménia da era Ceauşescu, retira o livro uma das suas maiores forças. O lado documental, porém, é claramente secundário num romance que se foca quase por inteiro na mulher e em cuja figura a escritora refina laboriosamente o arquétipo da “mãe-coragem”, capaz de levar os seus propósitos até às últimas consequências. Para tanto, Nadia aceita correr os mais terríveis riscos, enquanto na sua boca se repete até à exaustão a palavra “filho”. E contudo...

Não querendo desvendar a trama – sobretudo porque penso que este livro merece ser lido -, diria apenas que gostaria de ver certas ideias desenvolvidas de forma mais consistente. Que preferiria perceber na íntegra o percurso de personagens deveras importantes em determinados momentos da acção e que acabam por desaparecer sem deixar rasto. E que gostaria de entender melhor as motivações de Nadia ao travestir-se duma certa moralidade, recuando a memórias do tempo da infância e dispondo-se a perdoar o imperdoável.

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