CONCERTO: Angelite Vozes Búlgaras
+ António Zambujo
Centro de Artes de Águeda
10 Dez 2017 | Dom | 21:30
Por muito que possamos ver, ouvir ou sentir, sempre haverão momentos capazes de nos surpreender
e de nos proporcionar experiências únicas, daquelas que, por certo, jamais se apagarão da nossa memória. E se o Concerto que o agrupamento
“Angelite Vozes Búlgaras” deu no Centro de Artes de Águeda é
disso a prova provada, gostaria de destacar um momento preciso, “aquele” momento que se constituiu numa verdadeira experiência de vida.
O intervalo aproximava-se e o
excepcional naipe de vinte vozes “a capella”, todas elas
mulheres, interpretava “Veliko Slavoslovie” (em português
“Grande Música de Louvor”), do compositor e director de coros
búlgaro Apostol Nikolaev-Stroumski. É um peça que se enquadra na
tradição dos cânticos ortodoxos e cuja beleza e pureza nos deixa completamente
despojados perante Deus. Um hino de “glória aos céus, pela
paz na terra e virtude aos homens”, um momento de elevação,
inspirador, celestial. É precisamente durante a interpretação
desta peça que a tempestade “Ana” se abate sobre Águeda com
inusitada violência. Uma quebra de energia faz disparar duas luzes
de emergência sobre a plateia, deixando o palco na penumbra.
Suspensos do que se vai seguir, os espectadores estão completamente
rendidos ao momento. É que, mesmo sem luz e sem sistema de som, o coro
prossegue, imperturbável, fazendo com que as vozes se sobreponham ao
rugido do vento. É um momento arrepiante, que nos reduz à nossa
pequenez, esmagados que somos pelo poder da música e pela força
dos elementos. Um momento único, daqueles que importa lembrar todos
os dias, porquanto nos mostra o quão maravilhoso é o dom da vida e
aquilo que ela nos oferece.
Foi um Concerto tão rico, tão
repleto de emoções, que quase se poderia contar uma história a
propósito de cada uma das 20 peças interpretadas. As primeiras
músicas, de inspiração natalícia, podem encontrar-se em
“Angel's Christmas”, álbum de 2008 da Jaro Records. Seguiram-se
peças da tradição cristã nas quais, para além da divinal “Veliko
Slavoslovie”, se incluem “Blagosloven Isi, Gospodi”, “Tebe
Poem” e “Sviatii Boje”, do álbum “Mercy For the Living”,
também de 2008. A segunda parte foi toda ela composta por canções
de raiz tradicional e popular, uma das quais, “Tapan Bie”, foi
cantada em simultâneo com “Chamateia”, uma canção popular dos
Açores, interpretada por António Zambujo. É difícil conceber
maior harmonia entre duas músicas distintas, que se conjugam de
forma perfeita e das quais resultou outro momento vocal único.
“Damba”, uma música alegre sobre a reunião das abelhas no
Inverno, “Polegnala e Toudora”, “Dragana I Slavei” ou
“Mechmetio”, a música que encerrou o programa, são outros
momentos de rara beleza e que fazem deste um dos mais extraordinários
Concertos a que tive o privilégio de assistir.
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