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FOTOGRAFIA




EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Frida Kahlo – As Suas Fotografias”
Centro Português de Fotografia
06 Jul > 04 Nov 2018

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Parte do arquivo fotográfico pessoal de Frida Kahlo está, desde a passada sexta feira, em exposição no Centro Português de Fotografia. Sob a curadoria de Pablo Ortiz Monasterio, reconhecido fotógrafo mexicano, e com a direcção de Hilda Trujillo Soto, directora do Museo Frida Kahlo (situado na Cidade do México), “Frida Kahlo – As Suas Fotografias” revela um pouco melhor a forma como Frida se comportava, relacionava e via o mundo, ao mesmo tempo que renova o nosso olhar sobre aquela que é uma das mais importantes e enigmáticas artistas da América Latina.

Centrada em seis temas fulcrais – “As Origens”, “A Casa Azul”, “Política, Revoluções e Diego”, “O Corpo Acidentado”, “Fotografia” e “Os Amores” -, a mostra integra 241 das mais de 6500 fotografias fechadas, há mais de 50 anos, na residência de Frida Kahlo. São instantâneos tirados pela própria artista, por familiares e amigos pessoais, casos de Man Ray, Martin Munkácsi, Edward Weston, Brassaï, Tina Modotti, Pierre Verger e Manuel Álvarez Bravo e que permitem conviver de mais perto com momentos determinantes da vida da artista, desde o acidente que a incapacitou à recuperação, passando por imagens de homens e mulheres com quem manteve relações mais próximas, mesmo íntimas.

O conjunto agora apresentado foi preservado graças ao amor de Frida Kahlo pela arte fotográfica. A artista cuidou, fruiu das fotografias e trabalhou-as – colorindo-as, imprimindo-lhes beijos, recortando-as ou inscrevendo-lhes pensamentos. Estas fotografias reflectem as particularidades e interesses da pintora ao longo da sua vida atribulada: a família, o fascínio por Diego Rivera, seu marido, os múltiplos amores, os amigos e alguns inimigos, o corpo acidentado e a ciência médica, a luta política e a arte, os índios e o passado pré-histórico e a paixão pelo México e pelo seu povo. São fotos que, em grande parte, foram utilizadas como ferramentas de trabalho para as suas telas e que encerram, por todos os motivos, um extraordinário valor documental e histórico. A não perder!




EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Retratos na Mala”,
de Marilyn Marques
Museu da Fundação Dionisio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro, Águeda
30 Mai > 30 Set 2018

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Patente ao público no Museu da Fundação Dionisio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro, em Águeda, a Exposição de Fotografia “Retratos na Mala”, de Marilyn Marques, engloba um conjunto de testemunhos da passagem da artista por Macau e Vietname, em Janeiro de 2016. São 18 fotografias onde se podem apreciar os habituais contrastes que definem aquilo a que se convencionou chamar de choque cultural e onde a questão da escala desempenha um papel importante. Também a cor se assume como elemento primordial, carregando de energia e vida a maioria das imagens. Até aqui, nada de novo. E, contudo...

Recusando o cliché, Marilyn Marques mergulha no detalhe para nos dizer que é aí que reside a diferença. Ao fazê-lo, a artista pede ao espectador uma atenção redobrada na descoberta de insuspeitados pontos de contacto com a realidade de cada um. Afinal, o “toque oriental” está mais nos paus de incenso que queimam à proa do barco ou no chapéu cónico repousando no joelho da mulher, do que na banca de legumes ou nos gatos que, desconfiados, olham a fotógrafa e a sua câmera. É de subtileza que se faz a fotografia de Marilyn Marques, compondo com graciosidade cada instante e dando a ver para lá daquilo que, realmente, é mostrado.

Finalmente, o fulcro aglutinador desta exposição e aquilo que nela há de mais fascinante: o tempo. Ou, melhor, a ausência de tempo, esse lugar único por onde passeamos nas asas do sonho. Olhar para cada uma destas fotos é ver um tempo parado, saboreado, prazeroso. Um tempo “sentido”, de pura “détente”, como se o “clique” congelasse para sempre a felicidade do olhar. Os ruídos da cidade não ferem a imagem, tudo é paz e harmonia. Como a doçura dos rostos de dois apaixonados ou as conchas no areal, ali deixadas pelo passar das marés.

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Marilyn Marques nasceu em Caracas, em 1979. Vive em Águeda desde 1989. Estudou na Escola Secundária Marques Castilho, licenciou-se em fotografia pela Escola Superior de Tecnologia de Tomar (ESTT) e passou pelo jornal Público. Interessa-se particularmente pela vertente documental e fotojornalística, tendo participado em exposições colectivas na Galeria Municipal da Cidade da Horta (2005) e na Quadrienal de Praga (2007), no âmbito do projecto "Architectures on Stage" de João Mendes Ribeiro. Actualmente trabalha como freelancer em parceria com várias entidades.




EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Cabalos do Vento”,
de Luis Vásquez
Leica Gallery Porto
26 mai > 21 jul 2018


O tema escolhido para esta exposição é uma festa tradicional intitulada “Rapa das Bestas” que se desenrola no município de A Estrada, mais concretamente na aldeia de Sabucedo, onde homens e animais medem forças. Este evento decorre durante quatro dias, a partir da primeira sexta feira do mês de Julho de cada ano, atraindo milhares de pessoas em torno dum tema central, os cavalos selvagens, que coexistem livremente nas montanhas das redondezas.

Com este trabalho, Luis Vásquez vai um pouco além da própria festa, entendendo que o valor daqueles dias não reflecte exactamente a enorme quantidade de trabalho que há para trás, como o cuidar das montanhas para que os animais possam ter pastos suficientes para alimentação e água limpa, condições que lhes permitem viver livremente, tal como têm feito ao longo desde sempre. Não é uma tarefa fácil, tendo em conta que as pessoas que realizam estas ações o fazem de forma altruísta, fora do horário de trabalho, dedicando muitos dias livres para cuidar dos cavalos e das montanhas. A sua paixão transbordante pelos animais é refletida durante os dias da Rapa, quando reúnem os animais para aparar as suas crinas, desparasitá-los e identificá-los. Em seguida, os cavalos são soltos nas montanhas próximas à aldeia e as manadas regressam aos seus territórios.

Usando o cavalo como uma linha guia, Luis Vásquez dá-nos ver a coexistência entre homem e animal e os laços criados profundamente enraizados no seu modo de vida, o que se traduz em longas horas de caminhada em estradas e montanhas em busca de manadas de cavalos selvagens que dão sentido ao seu estilo de vida. Seja a pé, a cavalo ou em moto, estes homens e mulheres são responsáveis por manter viva uma tradição transmitida de pai para filho por gerações.


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Luis Vázquez, 1993, é um jovem fotógrafo emergente originário da Galiza, Espanha. Percorrendo múltiplos países, procura mostrar as tradições de cada um como por exemplo o Dia dos Mortos no México, os Pescadores com Corvos Marinhos na China ou o seu mais recente Cabalos do Vento em Espanha. Encontra-se presentemente a trabalhar nos efeitos económicos e ambientais provocados pelos incêndios florestais que arrasaram a Galiza e o problema demográfico da região e o seu mundo rural.



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Pontes”,
de Fernando Jorge
Galeria Colorfoto, Porto
25 Mai > 22 Jun 2018


Com o título “Pontes”, a Exposição de Fotografia de Fernando Jorge, que pode ser agora apreciada na Galeria Colorfoto – um amplo e bem iluminado espaço que ocupa a cave da popular loja de fotografia do Porto –, deve ser interpretada no seu sentido mais lato. Estão lá as pontes da Invicta, é certo, captadas em toda a sua magnificência pelo olhar mágico do artista, mas estão igualmente as pontes com as gentes do Porto, naquilo que têm de mais genuíno. Feita de corpo e matéria, com o Douro de permeiro, esta mostra é um convite a apreciar um notável conjunto de 24 fotografias onde as sombras da cidade, as suas neblinas e os seus espaços mí(s)ticos se misturam e confundem com a “Ribeira Negra” de Júlio Resende, o “Aniki Bóbó” de Manoel de Oliveira ou a poesia de Carlos Tê.

“Pontes” chega ao Porto, depois de ter estado patente no Museu Russo de Fotografia, Nizhny Novgorod, de 20 de março a 07 de abril deste ano. Partindo dum convite do Centro Cultural “Casa de Portugal” na Rússia e da Embaixada de Portugal em Moscovo, esta exposição levou o Porto ao encontro do público russo, dando a ver a cidade numa perspectiva histórica, cultural e social inerente ao seu próprio espaço urbano, aspecto tão querido a Fernando Jorge e à sua fotografia, percebida como “sentimentos que lhe vão na alma”.


Nascido em Lisboa, em 1972, Fernando Jorge viu crescer a paixão pela luz aquando da sua passagem por Alcochete, em 2006. Três anos mais tarde, a fotografia tornava-se intensiva, quase diária, evidenciando uma busca incessante que não dispensava essa necessidade de “aprender a ver os melhores, estando junto deles, presencialmente ou em contacto com os seus livros”. Depois de ter fundado, com mais 8 amigos, a AFCA – Associação Fotografia e Cultura de Alcochete, foi fazendo exposições pontuais em Portugal e no estrangeiro e colocando algumas fotos no facebook [AQUI], à espera do “tempo” da sua fotografia. Que acabaria por chegar, naturalmente, face à sensibilidade e à poesia que se derrama das suas obras e que não deixam ninguém indiferente. Hoje, é dele a responsabilidade de estar presente na divulgação da fotografia e é nosso o prazer de poder usufruir dos seus trabalhos, das suas “pontes” entre razão e coração.




EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Uma Noite no Mar”,
de Alfredo Cunha
Museu Marítimo de Ilhavo
19 Mai > 30 Set 2018


Alfredo Cunha dispensa apresentações. É ele o autor de algumas das fotos mais emblemáticas do 25 de Abril e do pós-revolução, nomeadamente do período da descolonização. “Raízes da Nossa Força”, “Vidas Alheias”, “A Norte”, “Os Rapazes dos Tanques” ou “Fátima – Enquanto Houver Portugueses” são relatos a preto e branco que têm a sua assinatura e constituem peças fundamentais para se compreender a essência do ser português. Mas o seu trabalho ultrapassa as fronteiras e, com “Toda a esperança do Mundo”, mostra-nos, de forma pungente, a luta dos escravos nas terras áridas do Níger, o inconformismo dos habitantes dos bairros de lata do Bangladesh, os pescadores no Sri Lanka – os mesmos a quem o mar que os alimenta tudo levou num tsunami apocalíptico -, crianças que sobrevivem no limbo surreal do Haiti, meninas que lutam contra a tradição na Guiné-Bissau eoucurdos encurralados no Iraque pelo Estado Islâmico, resistindo à barbárie e à extinção. São ainda dele, entre outros, os incontornáveis “A Cortina dos Dias” e “Felicidade”, viagens a muitos tons pelas últimas quatro décadas de Portugal e do mundo.

De Alfredo Cunha aporta agora, ao Museu Marítimo de Ilhavo, a exposição “Uma Noite no Mar”. Trata-se dum conjunto de quatro dezenas de retratos que ilustram, com a força do olhar do artista – por umas horas pescador e tripulante –, o trabalho a bordo da traineira Henrique Cambola, acompanhando o mestre e os pescadores na faina da sardinha. É o mar e são as pessoas que andam em cima do mar o objecto desta mostra, como o são as histórias dentro de cada uma das fotografias, marcas identitárias duma comunidade de homens com um sentido do colectivo particularmente vincado, assente nos laços de solidariedade e camaradagem que se reforçam a cada saída para o mar. Mas é também a experiência pessoal de Alfredo Cunha, a forma como consegue conciliar essa capacidade de ver para além do óbvio e a forma como tira partido da luz, que marca o sentido desta mostra.

Fechando um ciclo de eventos dedicados a assinalar o Dia Internacional dos Museus, “Uma Noite no Mar” é uma proposta particularmente sugestiva num Museu que tem por missão a preservação da memória do trabalho no mar e a promoção da cultura e da identidade marítima dos portugueses. A exposição é acompanhada dum magnífico catálogo que pode ser adquirido na Loja do Museu a um preço quase simbólico e que traduz o cuidado com que o Museu trata os seus convidados. Importa não esquecer que as mostras passam mas os catálogos, testemunhos da sua passagem, permanecem. Agora que o Museu se prepara para assinalar a presença do visitante número 1.000.000, é tempo de dirigir para lá os passos e, a pretexto desta exposição, (re)visitar um espaço ímpar. Como ímpar é “Uma Noite no Mar”, de Alfredo Cunha.




EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Olhares”,
de José Eduardo Elvas
Museu de Ovar
14 Abr > 05 Mai 2017

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Aqueles que conhecem o José Eduardo Elvas há mais tempo, associam-no desde sempre ao Atletismo e, em particular, às provas de fundo, de resistência, onde o crer e a vontade vão de mãos dadas com o estoicismo e o sofrimento. A sua carreira prolongou-se por quase cinco décadas e foi pontuada por enormes resultados desportivos, tantos que nem o próprio deve saber contá-los. Foi sempre, naturalmente, um homem habituado a traçar objectivos, a sofrer para os alcançar e a colher, as mais    das vezes, os louros da vitória. No desporto como na vida, é um homem que não gosta de perder. Eu diria que “nem a feijões”. Falem-lhe do Sporting e perceberão imediatamente aquilo que quero dizer. É pois deste homem duro, lutador e habituado a “não mostrar o jogo”, que nos chega uma belíssima exposição de fotografia, “Olhares”, patente desde ontem e até ao próximo dia 05 de Maio no Museu de Ovar. Uma exposição que, há muito pouco tempo atrás, não estaria nas cogitações do artista. Só que a vida dá muitas voltas e as voltas na vida de José Eduardo Elvas levaram-no ao encontro duma máquina fotográfica.

Importa dizer que este encontro só aconteceu porque os problemas de saúde aconselharam-no, primeiro, a abrandar e, pouco depois, a parar em definitivo. Não fosse isso e o plano era para seguir à risca: o José Eduardo Elvas continuaria a correr – e a ganhar! -, até colocar um ponto final na sua carreira quando, aos 80 anos de idade, corresse a Maratona de Nova Iorque. Continuaria a treinar no seu território favorito – o vasto espaço florestal das Dunas de Ovar -, a correr veloz por sobre picadas com nomes tão bizarros como das “maias”, do “Brandão Marques”, das “árvores marrecas” ou o “sobe e desce grande” e... a não ver a beleza que se abria ali mesmo à sua frente. Parafraseando-o, “quando corremos e corremos para ganhar não olhamos, não vemos”. E foi quando deixou de correr e começou a caminhar que passou a ver. E a dar-nos a ver os seus “olhares”, que gentilmente foi partilhando na sua página no Facebook [AQUI]. Aí o descobri e, desde logo, me senti deslumbrado pelo seu talento e intuição, pela sua qualidade, pelo seu olhar. Aí continuo a ir diariamente, atraído por esse olhar, um olhar inspirador. Um olhar onde há, sobretudo, uma enorme sensibilidade, que toca profundamente e emociona.

É isso que se pode perceber da apreciação destes seus “Olhares”, agora expostos no Museu de Ovar. São doze fotografias que espelham bem, a par da enorme paixão que nutre pelos seus “habitats naturais” - o mar e a floresta -, o desejo de os tornar conhecidos e de os estender a outras paisagens do nosso território. Totalmente amador, recusando-se a si mesmo o título de fotógrafo e confessando não haver nenhum nome que lhe sirva de referência, José Eduardo Elvas coloca a estética e o gosto pessoal acima da técnica. Caminha, tira umas fotografias e isso são os seus olhares. Essa abordagem espiritual da fotografia, essa pureza no gesto que se intui quando observa, numa floresta a ressumar a caruma molhada e a resina, o chapéu dum cogumelo que acaba de romper à superfície, esse amor com que olha as “esculturas” deixadas pelo mar na maré vaza ou pelo vento na orla das dunas, dão nota duma pessoa invulgar e que é, ao mesmo tempo, um fotógrafo invulgar. Já se disse que José Eduardo Elvas foi obrigado a parar de correr, virando-se para a fotografia. Seria cruel da minha parte dizer que “há males que vêm por bem”, mas ele não me leva a mal se partilhar com ele uma das minhas máximas: “Quando se fecha uma porta, abre-se logo uma janela”. Neste caso, uma janela de horizontes vastos e belos. Uma janela aberta aos mais belos e vastos olhares. Do Zé, naturalmente!




EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Sequestros de Luz”,
de António Campos e Matos, Carlos Valente, Eduardo Martinho, Gaspar de Jesus, João Paulo Sottomayor, João Menéres, Jorge Viana Basto, José Carlos Matias Serra, Óscar Saraiva e Ricardo Fonseca
Centro Português de Fotografia, Porto
17 Mar > 24 Jun 2018

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A fotografia como registo constitui um testemunho válido, único, quer para quem esteve presente no momento fixado, quer para quem só, muito depois, dele tomou conhecimento visual e talvez mesmo verbal e provavelmente fantasioso, por vezes bem afastado do cenário real em que o mesmo ocorreu. De qualquer modo é um documento. Neste aspecto, “Sequestros de Luz”, exposição conjunta de dez fotógrafos portugueses, patente até 24 de Junho no Centro Português de Fotografia, não se afasta das premissas enunciadas. Mas é quanto basta para que o espectador se confronte com a vida que existe para lá dos objectos inanimados, as paisagens realçadas, os padrões sublinhados, a originalidade das texturas, névoas ou chuva, se ausente de distracções e desfrute dum descanso silencioso, se permita alcançar para lá das imagens.

Reviver em 1990 a Romaria do Senhor de Matosinhos, atentar na vegetação selvagem que irrompe no espaço urbano, na sua beleza humilde e discreta em que ninguém repara ou apreciar as graduações da luz, a sua intensidade e esbatimento nos mais diversos cenários e formas do quotidiano, são três das propostas que se oferecem ao espectador, com assinaturas de João Menéres, Carlos Valente e Jorge Viana Basto. José Carlos Matias Serra capta os efeitos de luz e sombra sobre os edifícios, António Campos e Matos prefere abordar o movimento e adopta o mar como objecto da sua atenção e Eduardo Martinho presenteia-nos com aquilo a que chama de “encanto libertino”, propondo uma relação de proximidade e cumplicidade com a luz terna do romance, sem provocação nem censura, sem juízos de valor, com respeito.

Com João Paulo Sottomayor chega, dum ponto de vista muito pessoal, o primeiro de dois momentos altos desta exposição. “Atravessar a Vida” diz-nos que “a vida, como o tempo, são os bens mais preciosos com que o homem vem ao mundo”. É isso que a sua fotografia nos mostra, seja num jogo de sueca ou numa brincadeira de crianças, numa concentração de jovens ou na louca dança duma cigana. Ricardo Fonseca pega-nos pela mão e convida-nos a conhecer a outra Manhattan que existe para lá dos clichés, enquanto Gaspar de Jesus nos fala do “Estigma da Diferença”, contrapondo o dia a dia dos habitantes da linda e secular Bélgica à desigualdade social que afeta o Brasil. Finalmente, Óscar Saraiva traz-nos o segundo grande momento destes “Sequestros de Luz” ao cruzar o olhar com o dos habitantes madrugadores da cidade, naquilo que ele designa por “Encontros Matutinos”. Tudo bons motivos para (mais) uma visita ao Centro Português de Fotografia.




EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Shades of Sensuality”,
de Tina Trumpp
Leica Gallery Porto
10 Mar 2018 > 16 Mai 2018

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Poucos temas como o nu marcaram tão intensamente a história da arte ao longo dos tempos. Seja na pintura ou na escultura, na fotografia ou no cinema, o corpo nu transformou-se em objecto de fascínio e a sua representação esteve sempre na mira dos grandes artistas. Da Grécia antiga guardamos a nudez masculina, costume social e moralmente aceite em contextos atléticos e militares e que se tornou um traço distintivo da cultura helénica. Percebemos hoje que o sentido se foi invertendo e a arte, nas suas mais diversas formas, acabaria por privilegiar o nu feminino, tendência particularmente acentuada com o advento da Fotografia.

Afinal, o que têm em comum Spencer Tunick, Man Ray, Elliot Erwitt, Helmut Newton ou Robert Mapplethorpe. São, todos eles, grandes nomes da fotografia mundial ligados ao nu feminino. Mas há mais: São, todos eles, homens. É, pois, num universo predominantemente masculino, que a fotógrafa alemã Tina Trumpp se insinua, dando a ver “Shades of Sensuality”, belíssima exposição que pode ser apreciada no espaço Leica Gallery Porto. São doze fotografias em grande formato, a cores ou a preto e branco, onde o mistério da feminilidade é revisitado a partir de uma nova perspectiva – não enquanto mero objecto de desejo, mas antes com uma elegância refinada, evidenciando confiança, força e uma beleza deslumbrante.

Se é verdade que a fotografia da nudez feminina nunca deixou de colocar o espectador na linha de fronteira entre a arte e o voyeurismo, não é menos verdade que as imagens delicadas e sensuais do corpo da mulher, captadas pela lente de Tina Trumpp, remetem sobretudo para o naturalismo ou, como pode ler-se no catálogo da exposição, “para uma linguagem visual mais próxima da visão de um pintor diante do corpo feminino”. A obra da fotógrafa alemã é um claro símbolo de amor e a forma como observa a essência de ser mulher é uma encantadora ode à beleza. A não perder, até ao próximo dia 16 de maio.




EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Terrível Aliada”, de
Lauren Maganete
Galeria de Arte Diogo de Macedo, Vila Nova de Gaia
09 Fev > 09 Mar 2018

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É das mulheres, da beleza dos seus rostos, das suas expressões delicadas, do seu olhar atento, que nos fala “Terrível Aliada”, exposição de fotografia de Lauren Maganete, com curadoria de Paloma Moriñigo, que me foi dada a ver na Galeria de Arte Diogo de Macedo, em Vila Nova de Gaia. Daí que não deixe de ser uma feliz coincidência ter a oportunidade de apreciar esta exposição precisamente no Dia Internacional da Mulher. E se à coincidência juntar a admiração de me ver numa Galeria de Arte integrada numa Escola Secundária – com tudo o que isso tem de enorme significado e importância -, podemos dizer que estavam reunidos os ingredientes para desfrutar de um momento sublime. E, na verdade, assim, foi.

Retratando o universo feminino com invulgar sensibilidade, Lauren Maganete tira o máximo partido da imagem através duma manipulação criteriosa que assenta, maioritariamente, na colagem. Desta forma, os retratos das “suas” mulheres ganham vida própria, como se subitamente dotadas de movimento. As obras reclamam agora a atenção do espectador, adquirem personalidade, alertam, intervêm. O olhar torna-se mais ambíguo perante uma boca que se cerra, aquele grito apenas esboçado carrega de dramatismo o gesto de levar a mão à cabeça, o desafio no rosto torna-se avassalador quando dois – e não um – par de olhos nos fitam, há uma maior sensualidade perante uns lábios que se adiantam e se oferecem, agora tão próximos.

É, assim, num contexto hiper-realista que podemos admirar esta exposição de Lauren Maganete. À artista não basta tornar reais cada uma daquelas mulheres ao fotografá-las. Há uma clara rejeição em reduzi-las a ilustrações pictóricas do passado. Através duma abordagem aparentemente simples, ela busca novas formas de expressão para subverter os modelos e desarticular as referências, reconstruindo e, ao mesmo tempo, reforçando o real. Lauren Maganete demonstra que a realidade própria da fotografia não é a realidade que envolve o objecto registado. Ela é a segunda realidade, uma realidade (des)construída tendo por base uma representação documental. Ao espectador pede-se que descodifique os elementos que a constituem para alcançar a compreensão plena. Desafio aceite, a fruição pode ser total. No meu caso foi!

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Lauren Maganete nasceu em Bragança e estudou no Porto, licenciando-se em Gestão e Administração de Empresas. Fotógrafa da Casa da Cultura de Vila Nova de Gaia desde 2009. Tem trabalhos publicados em diversas revistas e jornais nacionais e internacionais. Trabalha como fotógrafa freelancer, tendo vindo a colaborar com diversas instituições e empresas. Participa regularmente em exposições individuais e colectivas. Expôs em diversos locais, nomeadamente em Madrid, Jaén, Lisboa, Porto, Vila Nova de Gaia, Ovar, Águeda, Gondomar, Coimbra e Bragança.




EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Extraños”,
de Juan Manuel Castro Prieto
Centro Português de Fotografia, Porto
15 Dez 2017 > 04 Mar 2018


As fotografias incluídas nesta exposição percorrem, ao longo de vinte anos, o território mais intimista de Juan Manuel Castro Prieto. Todo o seu trabalho tem uma base autobiográfica, mas é nesta colecção de imagens que surgem ambientes e temáticas que enquadram a estrutura essencial da sua obra.

Em “Extraños” torna-se visível, não só a excelente qualidade técnica das suas fotografias mas também o fio condutor que atravessa toda a sua trajectória como autor. Castro Prieto cria cenários oníricos a partir da realidade quotidiana; as paisagens, os locais, os retratos são elementos de que se serve para construir um universo pautado de reflexão, magia, mistério e ambiguidade. São fotografias abertas que denotam a profunda relação do autor com a literatura: cada imagem pode ser parte de uma narrativa interrompida. As suas intervenções – cada vez mais frequentes – destinam-se sempre a gerar esse âmbito de irrealidade omnipresente em toda a sua obra.

“Extraños” é um excelente exemplo da coerência que Juan Manuel Castro Prieto desenvolveu entre 1984 e 2003, um período fundamental no processo de amadurecimento de uma obra multifacetada, que explora a memória desde as pegadas latentes que habitam os seus espaços pessoais e familiares; o sexo e a morte coexistem em algumas das suas imagens como uma dualidade que evidencia um certo fatalismo na sua relação com a vida e, simultaneamente, uma reivindicação lúdica da existência. Finalmente, através da infância, o autor submerge-se nesse território ambíguo que é a transposição para a adolescência: um tempo de abstracção e de primeiras introspecções.

[Excerto do texto de Alejandro Catellote que serve de introdução à exposição de fotografia de Juan Manuel Castro Prieto]




EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA
de Jorge Bacelar
Museu de Ovar
03 Fev > 03 Mar 2018

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Está patente desde o passado dia 3 de Fevereiro, no Museu de Ovar, a Exposição de Fotografia de Jorge Bacelar, série de 39 retratos que fazem incidir o olhar sensível do artista sobre uma ruralidade na qual faz questão de se incluir. Veterinário de profissão na Murtosa, em pleno coração da região do Baixo Vouga Lagunar, Jorge Bacelar estabelece com as gentes do campo uma rara cumplicidade, retratando-as de forma a sublinhar o que de mais puro existe na sua essência e acrescentando dignidade e solenidade a cada rosto, a cada gesto.

Jorge Bacelar tem esse raro dom de combinar o olhar realista com a utilização dramática da luz. Deste ponto de vista, o artista está para a fotografia como Michelangelo Merisi da Caravaggio está para a pintura. As suas obras propõem um naturalismo estrito, assente em ambientes entre o real e o encenado e numa cuidada observação física dos sujeitos retratados – as mãos, por exemplo, são superiormente evidenciadas pela sua fotografia. Esta teatralidade particular dos “quadros”, é reforçada pelo excepcional domínio do claro-obscuro - Caravaggio, precisamente -, fazendo com que as zonas de sombra se “esbatam” por completo, ao mesmo tempo que os sujeitos são trespassados por uma luz divina.

Há na fotografia de Jorge Bacelar uma dimensão eminentemente bíblica. No gesto de pegar ao colo um galo ou de colocar aos ombros um cabrito, no afagar com as mãos calosas o rosto duma criança, no levar à boca uma fatia de melancia ou no partir a broa, não há qualquer nostalgia ou fatalismo, apenas ternura. É a natureza a dar largas ao seu livre curso, fundado nos mistérios da Criação. O que Bacelar dá a ver é, tão somente, o profundo respeito do homem pela terra de onde retira os seus proventos, o que remete para um ideal de pureza que o (nos) aproxima de Deus. Mas o melhor é cada um tomar o rumo do Museu de Ovar e avaliar por si. As obras estarão expostas por um período de tempo reduzido e convém anotar sem demora na agenda esta quase obrigação, sob pena de se vir a perder aquele que será, sem sombra de dúvida, um dos grandes momentos culturais de 2018 no Concelho de Ovar!




CONFERÊNCIA: “Coração de Índio”,
de Ângela Ferreira
Clube Recreativo Avintense
04 Fev 2018 | dom | 11:30


Porque o iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes não se resume à vertente expositiva, decorreu na manhã de domingo uma Conferência de Ângela Ferreira (a.k.a. Berlinde), subordinada ao tema “Coração de Índio” ou em tupi, linguagem indígena, “Nynhã Aba”. Simultaneamente, teve lugar o lançamento em Portugal da Scopio Magazine Addendum, um livro destinado a tornar mais palpável junto do público o extraordinário trabalho da artista. Falando do seu trabalho junto das comunidades indígenas e caboclas do Nordeste do Brasil, a artista e investigadora logrou, graças ao seu enorme talento, conhecimento e entusiasmo, contagiar a plateia e aquecer o Salão Nobre do Clube Recreativo Avintense, naquilo que acabou por se constituir como uma reflexão sobre um possível lugar da imagem face às relações de afectividade que se estabelecem com o objecto-fotografia.

Orientando a sua pesquisa para a defesa duma arte no universo do sensível, Ângela Ferreira mergulhou nas comunidades, entrou nas casas das pessoas, ouviu histórias, recolheu objectos e falou dessas experiências. Neste processo riquíssimo de interacção entre a investigadora e o objeto estudado, teve a oportunidade de perceber de que forma os povos indígenas lidam com a sua identidade e qual o valor afectivo da fotografia enquanto instrumento de diálogo com o exterior. Do seu percurso como artista – pesquisadora – educadora, Ângela Ferreira deu a ver ao público presente uma sequência de imagens que foi projectando e que resumiram a construção do objecto “livro de artista”, uma espécie de diário onde cabem, a par de histórias, textos, poesia e fotografias, todo um manancial de linhas, símbolos, cores, risos e dor, saudade, tradições e afectos, ou, como Ângela Ferreira vincou, “a ignição daquilo que é o olhar do investigador”.

Destacando a fotografia como “importante instrumento filosófico e poético, capaz de mediar as possíveis relações entre os afectos e a construção do conhecimento”, Ângela Ferreira citou Roland Barthes ao afirmar que “o retrato sempre me espanta, com um espanto que dura e se renova, inesgotavelmente”. Ao apontar a fotopintura como paradigma da “estética da afectividade”, a artista referiu que ela representa “a diferença entre aquilo que se é e aquilo que se quer ser”. Ilustrando: “O fotopintor vem criar aquilo que é a dignidade do retratado, elevando a sua auto-estima”. E acrescenta: “Não se faz um retrato pintado à toa, é uma exaltação dos afectos, o símbolo máximo do que se poderia abranger com um álbum de família”. Mas deixou um alerta em jeito de conclusão: “Há fotografias que não se escrevem. Só o tempo opera a justa forma de expressar os afectos.”

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Ângela Ferreira (a.k.a, Berlinde) - Artista, curadora e investigadora, possui o Doutoramento em Comunicação Visual e Expressão Plástica, pela Escola de Educação da Universidade do Minho de Braga e a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2016). É mestre em Fotografia Digital pela Utrecht School of Arts, Holanda (2004), sendo Pós-Graduada em Direcção Artística pela ESAP do Porto (2003) e Licenciada em Direito pela Universidade do Minho em Braga (1998). É professora na Escola Superior de Media Artes e Design do Instituto Politécnico do Porto e atua no domínio de investigação sobre as formas híbridas da fotografia. É co-Fundadora da Associação e Festival Internacional de Fotografia Encontros da Imagem de Braga tendo sido diretora e curadora das exposições nela integradas de 2012 a 2016. Integra desde 2017 o Conselho de Curadores do Museu da Fotografia de Fortaleza, no Brasil.

[Para saber mais sobre Ângela Ferreira e "Nynhã Aba", visite https://angelaberlinde.com/Nynha-Aba].




CERTAME: iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes
Direcção do Festival | Pereira Lopes
Vários locais
02 Fev > 04 Mar 2018

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Decorre desde a passada sexta feira a 5ª edição do iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes. Cinco localidades (Avintes, Gaia, Lourosa, Castelo de Paiva e Porto), fotógrafos de oito países representados (Portugal, Espanha, Itália, Marrocos, Brasil, Colômbia, Índia e Iraque), 18 pólos expositivos e um total de 25 exposições são números que impressionam e dizem bem da dimensão dum certame organizado com parcos recursos, muito empenho, muita carolice, mas sobretudo muita paixão, muito gosto pela fotografia. Isso sente-se na forma como o visitante é recebido, no gosto com que se oferece o que há para ver, na franqueza com que se discutem projetos e propostas. Um Festival que, em termos pessoais, me reconciliou com este género de iniciativas. Um Festival que não inventa o que não há para inventar, que sabe mostrar-se atento à realidade da fotografia nos dias de hoje e que, na sua genuinidade e pureza, se afirma como um dos grandes certames do género em Portugal.

De todas as propostas que me foram dadas a ver neste frio e ventoso domingo, é difícil destacar uma que seja, de tal forma o nível de superior qualidade é equilibrado. Patente na Fundação Joaquim Oliveira Lopes, “Diálogos Abstracionistas da Água” mostra que dificilmente o abstracionismo partilhará de forma tão íntima o espaço do real como nesta série do português Óscar Valério, que explora o potencial de “fotogenia” da Ribeira do Gondim, em Arouca. No Salão Nobre do Clube Recreativo Avintense, “Caminhos do Metro”, do português Filipe Carneiro, viaja nos percursos dos dias de hoje, ligando através da imagem as estações, os acessos, os cais de embarque, as linhas, as carruagens e as pessoas que utilizam este meio de transporte. Jose Luis Gea Marques, de Espanha, mostra no espaço dos Plebeus Avintenses o trabalho “O Olho Cíclope”, conjunto de quinze fotografias a preto e branco que ilustram o olhar do artista sobre a sociedade que o rodeia.

O edifício da Junta de Freguesia de Avintes acolhe duas exposições preciosas, uma do português Mário Ferreira e outra do brasileiro Tadeu Vilani. A primeira intitula-se “Dhobi Ghat, o Lavadouro de Bombaim” e nela se denuncia a dureza das condições de trabalho de sete milhares de pessoas num reduto de dimensões reduzidas no coração de Bombaim, Índia, e onde tensões de toda a ordem levam ao extremo o paradigma da sobrevivência. Quanto a Tadeu Vilani, traz-nos com “Olhos do Pampa” a vastidão do interior do Estado do Rio Grande do Sul e a vida dura dos gaúchos. Nas paredes da Confeitaria Tarte de Canela, o português Jorge Marques expõe, sob o título “Costa Verde”, imagens de grande beleza da costa litoral entre Espinho e Vila do Conde. O colectivo SEFA – Sesimbra Expressão Fotográfica Associação, apresenta no Restaurante do Parque Biológico de Gaia um conjunto de fotografias que documentam de forma superior a atividade piscatória da região de Sesimbra, com imagens da autoria de João Taborda, José Carlos Nero, Mário Gomes, Rui João Rodrigues e Rui Miguel Cunha. Finalmente, o colombiano Ariel Arango presta uma homenagem ao verdadeiro ex-libris da freguesia com “Broa Nossa de Cada Dia”, uma mostra que pode ser vista nos Plebeus Avintenses. Mas estes são apenas alguns núcleos dum Festival cuja programação completa e demais informação pode ser consultada em http://www.instantesffa.com/. A visitar sem demora!




EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “The World of Steve McCurry”
Alfândega do Porto
14 Out > 31 Dez 2017

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Quando começou a viajar, aos 19 anos, Steve McCurry tomou a decisão de dar um propósito à sua vida no decurso dessas viagens, acabando a descoberta da fotografia por se revelar determinante. De repente, encontrava no seu trabalho a energia de que necessitava, o propósito pelo qual tanto ansiava, e percebia que estava perante algo que poderia fazer o resto da sua vida. A verdade, porém, é que nesse tempo estaria longe de imaginar o caminho que mediaria entre os primeiros passos, num pequeno jornal nos subúrbios da Pensilvânia, até aos nossos dias, a trabalhar para uma revista como a National Geographic, com doze livros publicados e uma vida de viagens pelos locais mais interessantes do planeta, registando alguns dos momentos fundamentais dos nossos tempos. É parte desta caminhada fascinante que se oferece ao olhar do visitante da Exposição “The World of Steve McCurry”, naquele que é, inegavelmente, um dos grandes acontecimentos culturais da cidade do Porto neste final de ano. Uma Exposição que está patente no edifício da Alfândega até ao último dia do ano e que é composta por um conjunto de duzentas fotografias, cinquenta das quais comentadas pelo próprio Steve McCurry, por intermédio de audioguia (incluído no preço do ingresso).

Admirar cada uma das fotografias de Steve McCurry é mergulhar num mundo fantástico de emoções e de sentimentos, não raras vezes contraditórios. A extraordinária imagem, captada a partir do interior dum taxi, de uma mulher com uma criança ao colo pedindo esmola pelas ruas de Bombaim, sublinha, de forma pungente, as enormes discrepâncias entre ricos e pobres. Por outro lado, é impossível ficar indiferente a imagens que nos colocam, literalmente, na linha da frente da História. O 11 de Setembro é um desses momentos que iremos recordar para sempre graças a imagens como as de Steve McCurry. Ao documentar o local, o momento, o fotógrafo mais não faz do que imortalizar a memória de um outro tempo, de uma outra forma de viver neste planeta. E isto é válido tanto para o terrível atentado, como é válido para o Afeganistão ou para a Guerra do Golfo, por exemplo. Testemunhar momentos que mudam o curso da história, ser parte da conversa, estar lá, documentar, antecipar e fazer parte dessa antecipação é o desígnio deste enorme fotógrafo. Mostrar ao Mundo a forma como a vida era nesses locais e eventualmente a forma como mudou, por vezes para melhor, faz-nos pensar naquilo que fomos e naquilo que somos. De que forma os acontecimentos nos marcaram e o que mudou em nós. Por vezes para pior.

Uma das coisas que mais impressionam nesta exposição é a sólida empatia que se gera entre fotógrafo e espectador. A forma como se percebe a necessidade de ir em busca de situações apaixonantes e com as quais há um claro envolvimento emocional, fazem de cada fotografia o ponto de partida de uma grande aventura. Observando os registos na Índia, por exemplo, é impossível resistir ao apelo da cultura, das pessoas, das paisagens. Com Steve McCurry, sentimo-nos recuar centenas, nalguns casos milhares de anos, e com uma tal profundidade que não nos cansamos de olhar para aqueles rostos, para aqueles lugares, e de nos interrogarmos acerca do papel do homem no mundo. Embarcar neste “Mundo de Steve McCurry” é confrontarmo-nos com momentos muito duros, é certo, mas é, ao mesmo tempo, percebermos a diversidade da raça humana, a sua riqueza cultural, o que diferencia os homens e o que os une. “Aquilo que move a paixão pelo teu trabalho é aquilo em que acreditas, que dá um sentido à tua vida. O meu trabalho, a minha arte, a minha fotografia, é algo de que nunca me afastarei, algo que farei até ao meu último suspiro”, diz Steve McCurry. E está tudo dito!




EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Ilha”,
de Paulo Pimenta
Centro Português de Fotografia, Porto
25 Nov 2017 > 25 Mar 2018

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As Ilhas constituem no Porto uma realidade multissecular. Construídas, na sua maioria, de forma precária, aproveitando todas as nesgas de terreno, sem infra-estruturação adequada, as Ilhas são, na sua grande maioria, focos de insalubridade e de doença. O esquecimento a que foram votadas advém também da sua conformação espacial, espaços de viver localizados nas traseiras das ruas, delas separadas e delas escondidas. Apesar disso (ou, até por isso) a Ilha foi, e é, construtora de uma identidade comum, espaço de resistência e socialização dos mais desfavorecidos, elo de familiaridade e acolhimento para com conhecidos e amigos.

São sobretudo os aspectos sociais e culturais intrínsecos às Ilhas do Porto e aos seus “ilhéus” que surgem evidenciados nesta compilação de imagens do fotojornalista Paulo Pimenta, com a participação de crianças da associação O Meu Lugar no Mundo e de seniores do Centro de Dia do Senhor do Bonfim. Um trabalho de criação artística desenvolvido ao longo de dois anos e no qual se buscam respostas a questões tão pertinentes como “o que é uma Ilha”, “o que é estar dentro e estar fora de uma Ilha”, “como é viver num espaço onde as janelas se abrem para muros e as vidas se tecem em arquipélagos de corredores estreitos”, “que memórias perduram inscritas nas pessoas e nas paredes das casas” ou “onde nos cruzamos nesta cidade feita de Ilhas – Casas e Ilhas – Pessoas”.

As respostas encontram-se, em grande medida, nas imagens belíssimas que ilustram esta exposição, nos textos, escritos pelos mais novos, que consubstanciam pela palavra o sentido das imagens e ainda nos registos audio com as impressões de alguns habitantes. “Ilha” é, se quisermos, uma forma de alertar para um problema real e que urge resolver; mas é sobretudo, neste espaço do Centro Português de Fotografia e com este enquadramento, uma excelente exposição, delicada e sensível, que aborda uma temática dura e que o faz de forma equilibrada, entre a proximidade necessária e o distanciamento que se exige. Ou, como diz o fotógrafo em entrevista ao Jornalismo Porto Net [AQUI], “foi uma atitude de alerta, de denúncia, de usar a fotografia como mensagem para não se mudar o mundo, mas se calhar mudar uma vírgula – o que faz toda a diferença”. A ver, forçosamente!




EXPOSIÇÃO: Filipa Scarpa

Museu de Ovar

14 Out > 11 Nov 2017


A multipremiada fotógrafa Ana Filipa Garin Scarpa está presente no Museu de Ovar até ao próximo dia 11 de Novembro com uma mostra representativa da sua obra. São trinta trabalhos, com diferentes dimensões, motivos e técnicas, os que se podem apreciar nesta exposição, reveladores duma enorme sensibilidade, talento e bom gosto.

Da Ria de Alvor à Nazaré, das Azenhas do Mar ao Aquário Vasco da Gama, em Lisboa, Filipa Scarpa conduz-nos ao longo dum percurso que tem na água um elemento preponderante e que a artista explora ao pormenor. Impossível ficar indiferente à força de imagens como “The big Wave” ou “Sea Heroes”, à beleza da trilogia “A cor do Tempo”, à técnica de “My Favorite Ghost” ou “A Velocidade da Luz”, à originalidade dos pannings “Meia Praia, Lagos” ou ao divertimento que são “Hapyness” e “Olhos sobre o Mar”. Às quais acrescentaria a minha preferida, “Street lamps II”, uma paisagem urbana multicolorida num enquadramento mais-que-perfeito. Mas o melhor é cada um ver e avaliar por si!




EXPOSIÇÃO: “Henri Cartier-Bresson, Fotógrafo”
Galleria d'Arte Moderna e Contemporanea “Raffaele De Grada”

San Gimignano, Italia

16 Jun > 15 Out 2017


A máquina fotográfica é para mim um caderno de esboços, o instrumento da intuição e da espontaneidade, o mestre do instante que, em termos visuais, questiona e decide ao mesmo tempo. Para 'dar um significado' ao mundo, é preciso que nos sintamos envolvidos naquilo que se enquadra através do visor. Esta atitude requer concentração, disciplina mental, sensibilidade e sentido de geometria - é através duma grande economia de meios que se chega à simplicidade da expressão”
Henri Cartier-Bresson

Constituida por uma seleção de 133 fotografias, esta extraordinária mostra do fotógrafo Henri Cartier-Bresson, com curadoria de Robert Delpire, inclui obras que vão dos primórdios surrealistas, à série documental do movimento da resistência em Paris, bem como um conjunto de fotografias que ilustram as suas viagens nos anos 60 e 70. Emocionante!




EXPOSIÇÃO: “Arte Urbana”,

de Rui Palha

Casa da Cultura de Estarreja

09 set > 19 nov 2017


Reconhecidamente um dos grandes fotógrafos da atualidade a nível mundial, Rui Palha tem, por estes dias, um conjunto de obras suas expostas na Casa da Cultura de Estarreja. A mostra surge no âmbito do ESTAU | Estarreja Arte Urbana 2017 e é composta por três dezenas de fotografias de grande formato, sensivelmente metade das quais ao encontro daquilo que se convencionou designar por Arte Urbana, objeto da iniciativa e principal foco da exposição.

Todos os adjetivos são poucos para qualificar a obra de Rui Palha. Fazendo da rua o seu atelier, o artista revela uma especial apetência por paisagens onde a luz ténue é um convite à descoberta duma outra paisagem, misteriosa e fascinante, que se abriga nas sombras. De forma subtil, as suas imagens revelam lugares com pessoas dentro, colocando o espectador, quase sempre, perante a eterna questão de ser o fotógrafo a pessoa certa na hora certa ou, por outro lado, a pessoa certa, horas à espera da hora certa.

A fotografia de Rui Palha interroga sempre. Não há nesta mostra (como noutras mostras do artista) uma imagem só que, para além do valor mágico das mil palavras que possa convocar, não encerre um sem número de questões e não levante outras tantas suposições. São imagens que se contemplam com um sorriso, que remetem para fotógrafos como Garry Winogrand, Lee Friedlander ou Elliot Erwitt e de cuja visão se experimenta um imenso prazer. Para ver e saborear até ao próximo dia 19 de Novembro.




EXPOSIÇÃO COLECTIVA: "Barcos Tradicionais da Ria"
Galeria Municipal da Torreira

28 Jul > 06 Ago 2017


A Associação de Fotografia e Artes Visuais da Murtosa inaugurou esta noite, na Galeria Municipal da Torreira, uma exposição coletiva de fotografia intitulada "Barcos Tradicionais da Ria". Trata-se dum conjunto de 40 trabalhos impressos em 60 x 40 e ainda 125 fotografias em slideshow, sendo a exposição complementada com vídeos de Jorge Bacelar, António José Cravo e Paulo João Silva.

Mais do que os barcos, pretexto para esta mostra e contraponto humanizador dum espaço que ainda pauta a vida de muitos, é a ria e a sua inesgotável fotogenia que aqui se expõe. Cambiantes tão simples como as marés, as horas do dia ou as nuances do tempo são elementos transformadores da paisagem, acrescentando-lhe força e dramatismo. Por muito diversos que os focos de atenção dos vários fotógrafos aqui representados possam ser, todos eles acabam por "mergulhar" neste precioso espaço de água, evidenciando a intensidade da sua presença física, o seu poder de atração, o seu fervilhar de vida sob um manto de aparente acalmia ou de tumultuosa agitação.

Ao sabor cadenciado de quem bebe pedaços de vida, ouça-se o vento nas velas dum moliceiro, sorva-se a maresia das manhãs de nevoeiro, vejam-se as redes nas mãos do pescador, sinta-se o calmo marulhar das águas no balanço dum remo. E saúde-se a iniciativa da AFAVMURTOSA, quer pela qualidade dos trabalhos expostos, quer pelo esforço de animação deste espaço cultural. Até ao próximo dia 06 de Agosto, barcos, gentes e paisagens da ria de mãos dadas na Galeria Municipal da Torreira. A não perder!




EXPOSIÇÃO: “O Meu Olhar”,

de Fátima Salcedo

Museu de Ovar
01 jul > 29 jul 2017


O Museu de Ovar volta a abrir a Sala dos Fundadores à fotografia, acolhendo a exposição “O Meu Olhar”, de Fátima Salcedo. Colocando uma particular atenção na fotografia de rua, Fátima Salcedo oferece-nos um conjunto de belos instantâneos a preto e branco, nos quais é possível “ler”, com clareza, a riqueza de gestos e estados de alma, quer das pessoas retratadas quer da própria artista.
Com um sentido estético apurado (percebe-se isso, até, na forma como fez questão de apresentar as suas fotografias nesta exposição, tirando o melhor partido do espaço), Fátima Salcedo mergulha sorrateiramente no quotidiano das pessoas, guardando a devida distância e capturando o instante com um misto de sensibilidade e bom gosto. É particularmente relevante a forma como tira partido dos jogos de sombra e a naturalidade com que se move entre o real e o aparente, num convite à desconstrução da imagem e à descoberta dos segredos que encerra.

Fátima Salcedo participou em várias exposições individuais e coletivas e tem o seu nome inscrito nalgumas das mais interessantes páginas ligadas à fotografia de rua, nomeadamente a World-Street.Photography, Street Urban, Street Level #Photography e outras. Nelas é possível apreciar estes e outros trabalhos da artista, bem como a partir da sua página no Facebook, em https://www.facebook.com/fatima.salcedo.79. Para os aficionados da fotografia, fica ainda a informação de que Fátima Salcedo fotografa exclusivamente a preto e branco com equipamento Leica e utiliza um corpo Monochrome M246 e várias lentes entre 28mm e 90mm, com preferência para 50mm e grandes aberturas. Uma exposição a não perder!




EXPOSIÇÃO: “Perspectivas”,
de Lauren Maganete
Biblioteca Municipal de Ovar
12 mai > 09 jun 2017


A ativa galeria de exposições da Biblioteca Municipal de Ovar acolhe, até ao próximo dia 09 de junho, a exposição “Perspectivas”, da fotógrafa Lauren Maganete. Trata-se dum conjunto reduzido de obras de grandes dimensões, em diferentes suportes, a cores ou a preto e branco, que prendem a nossa atenção e remetem para paisagens urbanas – paisagens humanas (!) - significativamente próximas.

O olhar atento e depurado da fotógrafa capta instantes de grande beleza estética, instantes que remetem para histórias de vida que dizem muito mais do que um simples instantâneo. Ao correr dum momento de puro deleite, descobrimos “passos, sombras, vazio, objetos, metáforas por sobre pêndulos – perspectivas – de vida que resistem a este vai e vem de um quotidiano de minutos, dias, meses ou anos... ou de tudo num instante”, conforme as palavras de J. M. Vieira Duque, no breve folheto de apresentação desta exposição.

Mimetizando a voragem do tempo, esta é uma exposição que se sorve dum trago e que deixa um certo “sabor a pouco”. Um sabor que, implicitamente, nos convida a conhecer melhor a artista e nos    obriga a estar atentos à sua obra.


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