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domingo, 2 de junho de 2024

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Mezzanine"



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Mezzanine”
Vários artistas
Obras do acervo de fotografia do Novo Banco
Curadoria | João Zero
Organização | Museu Marítimo de Ílhavo
Casa da Cultura de Ílhavo - Sala de Exposições
01 Abr > 30 Jun 2024


“Quando pensamos em ti, sonhamos com um conceito universal. Mas, de facto, ainda não o és. Continuas um conjunto de atos de uma idílica construção, um processo, um caminho inacabado. Claro que alguns de nós sabem que serias sempre de difícil definição e temos também alguma certeza de que nunca estarás finalizada. Mas esta dificuldade no teu percurso mostrou-nos a tua forma, muitas vezes subtil, de ser, a tua criatividade em parecer e a tua astúcia em esconder. Será por isso que a grande maioria não conviverá contigo? Não te conhece e, eventualmente, nem te poderá ou até quererá conhecer? Mas acreditando que serás o que procuramos, o que ambicionamos, o que necessitamos, temos de te pensar mais, de te viver mais, de te mostrar mais. Aqui e agora, com os teus 50 anos, estás no local e no momento que tem vindo a ser considerado a meia-idade. Vives descontraída, neste espaço de refúgio e de observação, muito entre o respeitar o passado, viver o presente e delinear o futuro. Encontras-te num lugar altaneiro, aberto, arejado e receptivo, de contemplação e de análise. Mas não será perigoso? Onde estão as tuas proteções?... É desse lugar que observas do passado ao presente, do retorcido violento ao descontraído carinhoso, passando pelo leve sussurro do prazer e, projectas o futuro. Liberdade!”

Quem lê este belíssimo texto de João Zero, patente numa das paredes à entrada da Sala de Exposições da Casa da Cultura de Ílhavo, fica com a impressão inicial de que é à Colecção de Fotografia Contemporânea do Novo Banco que o texto se refere. Depois, a última palavra desfaz qualquer equívoco (sendo certo que a colecção surgiu apenas em 2004), mas esta característica de “idílica construção”, de “caminho inacabado”, esta necessidade “de te pensar mais, de te viver mais, de te mostrar mais”, são factores comuns à liberdade e a uma colecção pensada e construída em liberdade. Uma colecção que teve o seu início com a aquisição de uma caixa de luz de Jeff Wall, um autorretrato de Cindy Sherman, uma vista de Xangai de Thomas Struth e uma imagem de uma biblioteca de Candida Höfer. A partir daqui, a Colecção expandiu-se rapidamente, sendo hoje uma das mais relevantes colecções corporativas de arte contemporânea da Europa. Estas quatro obras, consideradas referência para uma colecção de obras de arte com base em fotografias de artistas vivos do século XXI, conta agora com mais de um milhar de obras de trezentos artistas de várias gerações e trinta e oito nacionalidades.

Voltando a “Mezzanine”, a exposição tem como tema a liberdade e está enquadrada nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974. Embora o acervo fotográfico, do qual se mostra aqui uma parte, não tenha como tema central a liberdade, mostra-se permeável a essa interpretação ou enquadramento. Como ideia simbólica do conceito de construção em geral e da liberdade em particular, apresenta-se aqui a “casa”, não só como edifício mas também como último reduto da emancipação de cada um, da edificação da sua liberdade individual. Esta exposição desafia o espectador a colocar-se num piso intermédio da “casa”, um piso de conceito aberto, receptivo e arejado, de varanda, pouco protegido, local privilegiado para a observação de toda a construção e em particular com uma atitude passível de reflexão do seu conteúdo. É daí que verá desfilar à sua frente um extraordinário conjunto de obras fundamentais da fotografia contemporânea, com assinaturas de Paulo Nozolino, Jorge Molder, Helena Marques, Daniel Blaufuks, Gérard Castello-Lopes, Susan Meiselas, Olafur Eliasson, Douglas Gordon, Willie Doherti ou Nan Goldin, entre outros.

Na primeira parte da exposição, olhamos da Mezzanine para o rés-do-chão da “casa” e observamos a sua base, o seu passado, mais ou menos fluido, mais ou menos confuso, mais ou menos definido. Na segunda parte exploramos a própria Mezzanine e toda a construção que se desenrola no dia-a-dia, perante os nossos olhos. Na terceira parte, da Mezzanine, ao observar o tecto, o sótão ou mesmo o telhado, dependendo da expectativa de cada um, tentamos projectar o futuro, o que pretendemos alcançar, o que teremos de percorrer, onde queremos chegar. Construído este percurso, o espectador sentir-se-á instalado neste lugar de liberdade… ou talvez não!

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