Páginas

terça-feira, 4 de junho de 2024

CONCERTO: Pé na Terra



CONCERTO: Pé na Terra
Torneio e Mercado Medieval de Ansiães
Praça 6 de Abril, Carrazeda de Ansiães
31 Mai 2024 | sex | 21:30


A animação voltou às ruas de Carrazeda de Ansiães e ao vizinho Castelo de Ansiães, com uma nova edição do Torneio e Mercado Medieval. Do vasto programa que se estendeu por três dias, entre tabernas medievais, tendas com as mais diversas actividades, jogos e actuações várias, destaque para o concerto dos Pé na Terra a preencher o serão do primeiro dia do certame. Com quase duas décadas de existência e três discos editados, esta banda incontornável no panorama da música tradicional portuguesa trouxe à Praça 6 de Abril alguns dos seus temas mais emblemáticos, cativando o público com a sua enorme energia e ritmo e oferecendo momentos únicos numa inspirada fusão entre a tradição e a modernidade. Viras e malhões, muinheiras e valsas, deram ensejo a que Cristina Castro (voz, acordeão e percussões), Nuno Pacheco (baixo), Hélio Ribeiro (guitarra, braguesa, voz, percussões), Ricardo Coelho (sopros, gaita-de-foles, gralha, adufe) e Ricardo Leão (bateria, percussões), fizessem do tempo do concerto um tempo de festa.

“Aguardente”, um original que integra o disco “13”, abriu as hostilidades da melhor forma, o “ADN” do quinteto a revelar-se em gaitas-de-foles místicas, no trinar do acordeão, na força de uma batida filiada em correntes que vão beber ao rock a sua matriz. Apesar da “aguardente”, ainda o chão não nos foge dos pés e já escutamos “Olha P’ra Cima”, tema extraído do terceiro disco, “Sarilho”, o corpo a aquecer e a preparar-se para o muito que está para vir. “Gemem guitarras na rua / Voam cantigas no ar / E as almas sobem à lua / Por escadas de luar”, escuta-se, enquanto somos puxados a dar um pezinho de dança ou, simplesmente, a bater palmas a compasso, numas “Escadas de Luar” encantadas, sobre quadras escritas pelo bisavô de Cristina Castro, natural de Linhares de Ansiães, aqui bem perto. “Vira de Seis” é mais um tema inscrito na tradição popular e que reforça a beleza e riqueza da música dos Pé na Terra. “Fala do Homem Nascido”, emblemático poema de António Gedeão que, na voz de Adriano Correia de Oliveira, Samuel e tantos outros cantores, tem o seu lugar inscrito na chamada música de intervenção, é-nos trazido numa nova roupagem e resultou num dos momentos mais altos da noite, a par com “Menino Ó”, um tema do cancioneiro popular de Trás-Os-Montes e que tão bem conhecemos na voz de Né Ladeiras ou da Brigada Vitor Jara. 

A “Valsa Verde” chamou ao terreiro os pares mais afoitos, em pés de dança onde a presteza delas contrastou com a falta de jeito e a atrapalhação deles. Zeca Afonso não podia faltar nesta noite de festa e a “Balada do Sino” - “Lá vai roubada lá vai na mão / Dim Dão na barquinha do ladrão” - foi outro dos grandes momentos do concerto, a parte instrumental a mostrar-se em intensidade e energia na parte final do tema. Com o concerto a caminhar para o fim, “Leve Linho”, tema emblemático do álbum “Sarilho”, trouxe-nos um dueto fantástico nas vozes de Catarina Castro e Hélio Ribeiro e, ainda, a energia e o ritmo dos tambores. “Muinheira de Sarnada” foi um abraço à Galiza e à sua música, ao passo que “Farrapeira” homenageou o cancioneiro da Beira Baixa e, de forma implícita, as Adufeiras do Paúl. “Sentir” foi um momento mágico, as palavras e a música alinhadas nesse fantástico trabalho de ligação entre a tradição e as novas sonoridades. Com “Pur la Terra”, bombos e gaitas de foles tomaram conta da praça e foi já com os músicos fora do palco, em roda no meio do público, que se escutou “Montes”, a colocar um ponto final no concerto. O público insistiu, a organização anuiu e foi possível voltar a escutar “Escadas de Luar”. Definitivamente, as almas subiram à lua!

Sem comentários:

Enviar um comentário