CONCERTO: Luca Argel
Bar do Cine-Teatro de Estarreja
25 Mai 2019 | sab | 22:00
“O que espanta miséria é festa!”
Beto Sem Braço
No regresso a Estarreja, após uma
participação particularmente activa na última edição do Carnaval
da cidade, Luca Argel esteve no Bar do CTE para apresentar “Conversa
de Fila”, o seu último trabalho autoral. Leve e bem humorado, este
álbum constitui uma resposta à tristeza e à desesperança que o
Brasil e os brasileiros vivem neste momento menos positivo da sua
História. De forma muito clara, o cantor carioca radicado em
Portugal há quase oito anos faz questão de oferecer um momento
colorido, pleno de alegria e riso, esse fôlego vital que permite
reinventar a vida e fazer com que cada um possa seguir em frente o
seu caminho.
Tomando o Samba como a sua grande força
inspiradora, Luca Argel oferece-nos um trabalho que é, todo ele, uma
celebração, um grito contagiante a clamar felicidade. É assim com
“Pisque Três Vezes”, “Não Digo” e “Só Eu Acho?”, os
três temas que abriram o concerto e que revelaram, desde logo, um
enorme cuidado e bom gosto na construção dos poemas, mas também
uma imensa frescura e harmonia em cada uma das composições,
alicerçada numa voz timbrada e extremamente melodiosa. Não
escondendo o seu apreço pela música de Chico Buarque, Luca Argel
foi buscar “Doze Anos” à “Ópera do Malandro”, oferecendo em
seguida uma espécie de réplica intitulada “Anos Doze” e que não
fala dessa infância de crescer solto, de brincar na rua, jogar à
bola e saltar os muros, antes de trocar tardes de praia “por
reprises do Jiraya ou caçando Pokémon”.
Deixando momentaneamente de parte
“Conversa de Fila”, o cantor carioca visitou ao de leve o seu
álbum anterior, “Bandeira” (2017), trazendo-nos “Estar o Ó”
(um trocadilho que é também uma homenagem a “Star Wars”), “Rua
da Consolação” e “Acanalhado”, mas também, mais à frente no
concerto, “Ninguém Faz Festa” e “Calote”, este último tema
dedicado a Joe Berardo. No regresso ao álbum mais recente, foi
possível escutar “Vila Cosmos”, uma viagem às referências do
cantor - “podemos sair do nosso lugar mas o nosso lugar não sai de
nós”, disse -, “Natal, Natal” e “Rato! Rato! Rato!”. Luca
Argel não esqueceu “Sorria”, o hino do Carnaval de Estarreja em
2019, no qual foi acompanhado por alguns dos presentes. Para o fim,
deixo propositadamente, “Samba Invertido”, “Gentrificasamba”
e “Conversa de Fila”, sobretudo pela qualidade das respectivas
letras. Delas se derrama um humor refinado, uma enorme doçura nos
gestos descritos, mas também uma certa ironia na forma como é
desenhado o nosso quotidiano. “Lembranças antigas / Histórias de
vida / Que a gente partilha” resume na perfeição o sujeito deste
delicioso serão, seguido com emoção por todos os presentes. Que
não foram muitos, mas foram muito bons!
Sem comentários:
Enviar um comentário