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quinta-feira, 21 de março de 2019

CINEMA: "Na Fronteira"



CINEMA: “Na Fronteira” / “Gräns”
Realização: Ali Abbasi
Argumento | John Ajvide Lindqvist, Ali Abbasi, Isabella Eklöf
Fotografia | Nadim Carlsen
Montagem | Olivia Neergaard-Holm, Anders Skov
Interpretação | Eva Melander, Eero Milonoff, Jörgen Thorsson, Ann Petrén, Sten Ljunggren, Kjell Wilhelmsen, Rakel Wärmländer
Produção | Nina Bisgaard, Piodor Gustafsson, Petra Jönsson
Suécia, Dinamarca | 2018 | Drama, Fantasia, Romance, Thriller | 110 minutos | M/12
Cinema Dolce Espaço
21 Mar 2019 | qui | 16:00


Há em Tina algo de extraordinário que vai além da sua fisionomia grotesca, algo que faz com que esta mulher se relacione melhor com a natureza e os animais do que com as pessoas que a rodeiam. É essa espécie de instinto animal que lhe permite intuir as emoções mais ocultas e descobrir criminosos no seu trabalho como guarda fronteiriça. Quer se trate de um menor que tenta passar álcool ou de um bem vestido pedófilo que se revelará a ponta do novelo de uma rede de pornografia infantil, nada escapa ao controlo de Tina, pronta a desmascarar os prevaricadores de forma eficiente e implacável. Quando encontra alguém com traços idênticos aos seus, porém, o seu mundo começa a desmoronar-se, a sua verdadeira origem e identidade pouco a pouco reveladas.

Na forma como alterna o tom e os assuntos, mantendo o espectador atento e interessado ao desenrolar da história, tem “Na Fronteira” o seu grande trunfo. Deste modo, o filme consegue um cruzamento interessante entre o romance e a trama policial a qual, longe de ser anedótica, lhe confere as ferramentas necessárias à caracterização das duas personagens principais. Um romance que nada tem a ver com uma certa superficialidade clássica do género, antes se abre em toda a sua complexidade já que o vínculo entre ambos se funda nas raízes da identidade de cada um e nas suas visões do mundo. Se Tina se sente atraída por Vore é porque finalmente encontrou alguém que a trata como uma igual e que lhe mostra que ser diferente não é uma aberração.

À medida que vai construindo a personagem de Tina, Ali Abbasi questiona vários conceitos adoptados pela sociedade como naturais, dos estereótipos da beleza ao romantismo vinculado a uma relação ou ao direito de responder aos abusos recebidos de forma violenta ou cruel. Tudo isto inserido num contexto subtilmente fantástico, que reinventa uma parte da cultura e das tradições regionais, adequando-as a um ambiente contemporâneo. Pena é que o realizador acabe enredado na teia que ele próprio criou, caindo aos poucos na banalidade e terminando em queda livre, a previsibilidade a tomar conta dum final absolutamente confrangedor. Incapaz do golpe de asa que elevasse “Na Fronteira” ao panteão dos filmes de culto – e andou lá perto! -, Abbasi oferece-nos um filme pela metade, com tanto de bom como de imbecil. Eva Melander não merecia isto!

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