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sábado, 15 de dezembro de 2018

TEATRO: "Verdade ou Consequência"



TEATRO: “Verdade ou Consequência”
Direcção Artística | Gonçalo Amorim
Dramaturgia, pesquisa e criação | Catarina Barros, Gonçalo Amorim, Marta Bernardes, Rui Pina Coelho
Direcção plástica| Catarina Barros
Artistas-performers | Nils Meisel, Joana Mesquita, Marta Bernardes, Patrícia Gonçalves, Catarina Barros, Tânia Dinis, Susana Paixão, Gonçalo Amorim, Paulo Mota, Pedro André, Daniel Seabra, Camila Muñoz
Produção | Teatro Experimental do Porto, TNSJ
Teatro Nacional S. João | 80 minutos | M/12
12 Dez 2018 | qua | 19:00


Verdade E Consequência! No princípio há aquela disposição dos lugares no centro da sala, a aleatoriedade dos números, a sua eventual desadequação em relação ao lugar onde decorre momentaneamente a acção. Perceberemos rapidamente que este artifício cénico não é um mero capricho do encenador, antes a primeira verdade da peça. Através dele somos obrigados a sentar num lugar que não aquele que seria suposto, enfrentamos o incómodo de termos de nos levantar ou deslocar para melhor apreciarmos a acção, sentimos o desconforto de acompanharmos a turba no aplauso injustificado, na interjeição despropositada, no “passeio dos tristes” que nada diz, nada acrescenta. Consequentemente, pede-se ao espectador que invista o seu tempo e os seus recursos numa realidade com a qual acabará por se identificar, por muitas reservas e distância que queira marcar. Pede-se que olhe à sua volta e perceba o quanto de verdade há numa sociedade em profunda mutação. E quais as consequências sobre o próprio eu.

E eis-nos chegados ao cerne duma peça que se desenvolve como se de um jogo se tratasse, “um espectáculo em doze versos, um bolo em doze fatias”. Pequenos palcos para representações isoladas, os doze espaços em torno dos espectadores vão sendo ocupados, espelhando a futilidade de comportamentos e gestos, o vazio das acções que arrastam meio mundo, a idolatria e a alienação. Nesta roda da fortuna, tiro de partida de uma maratona de proporções inimagináveis e onde a maioria é obrigada a alinhar, “os cavalos também se abatem”. Lutar contra a corrente é sempre um acto isolado e que resulta numa estéril pregação no deserto (extraordinário o monólogo da actriz que “nada sabe”). No final, verdade e consequência resultarão numa e na mesma coisa, tal como a história do homem que está seguro que ao chegar a casa terá uma festa surpresa à sua espera e, pondo a chave à porta, descobre que afinal não há surpresa nenhuma e isso deixa-o... surpreendido!

Concluo dizendo que a verdade é que, no decorrer da peça, se revelou inglório o meu esforço para me agarrar a algo que fizesse sentido, que não vi grande mérito no trabalho dos actores (à excepção do já referido monólogo e que resulta num extraordinário momento de teatro), que no final não reagi com as habituais palmas e que saí do teatro sem olhar para trás e com a firme intenção de esquecer rapidamente um momento que, pensei eu, me tinha trazido mais insatisfação do que prazer. A consequência é que se instalou em mim uma tremenda dúvida quanto ao propósito ou à mensagem da peça e que acabei por me sentir na obrigação de dar dois passos atrás para melhor perceber se, na verdade, não haveria ali algo que se pudesse aproveitar. Consequência: Da revisão da matéria dada resulta a percepção de que há muito de bom numa peça que importa ver sem reservas.

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