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quarta-feira, 28 de novembro de 2018

CONCERTO: Miguel Araújo e Tiago Nacarato



CONCERTO: Miguel Araujo e Tiago Nacarato
Cine-Teatro de Estarreja
24 Nov 2018 | sab | 21:30


Estou convencido que a “família” da música portuguesa será suficientemente restrita para que todos se conheçam a todos. E se nuns casos as afinidades são mínimas, resultando num natural “virar de costas”, noutros verifica-se uma total empatia entre os músicos e os respectivos projectos, daí resultando trabalhos em conjunto deveras interessantes, a merecer a atenção e aclamação do grande público. Terá sido esta a base do concerto que juntou no palco do Cine-Teatro de Estarreja, na noite do passado sábado, Miguel Araújo e Tiago Nacarato. Ao facto de serem quase vizinhos e de terem frequentado a mesma escola, embora com mais de uma década de vida a separá-los, junta-se a admiração que sentem pelo trabalho um do outro e o prazer em tocarem juntos. Daí este concerto que se pretendeu intimista e, sobretudo, de partilha de interesses, estendendo-se a uma sala completamente lotada e que foi convidada a participar activamente mediante pedido das músicas que mais gostaria de ouvir.

“Tempo”, o segundo single daquele que será o álbum de estreia de Tiago Nacarato, com edição prevista para 2019, marcou de forma feliz o início do concerto, com a dupla a mostrar-se em grande forma e a interpretar, sentidamente, esta balada que fala de um homem que reconhece não ser o melhor partido para a mulher e, “antes que o apego se apegue ainda mais”, a aconselha a buscar a felicidade noutra pessoa. A partir daqui, porém, esgotaram-se praticamente as surpresas. “Sampa” de Caetano Veloso, “No Rancho Fundo” de Ary Barroso, “Reader’s Digest” e “José”, ambas de Miguel Araújo, remeteram de forma clara para os concertos que Miguel Araújo e António Zambujo deram em 2016 e que esgotaram os Coliseus de Lisboa e do Porto ao longo de 28 apoteóticas noites. Mas a sensação de “déjà-vu” viria a adensar-se em mais uma mão cheia de músicas, sobretudo para aqueles que marcaram presença no Coliseu do Porto no “Cidade Grande Ao Vivo” ou que, em algum momento da digressão de “Giesta” (2017), tiveram a oportunidade de escutar Miguel Araújo em palco. Sobretudo esses perceberam que, em Estarreja, faltou o piano a “Ai Margarida”, faltaram Os Kappas a “Like a Rolling Stone”, faltou Ana Moura a “E Tu Gostavas de Mim” e faltou António Zambujo ao “Pica do 7”.

Muito do concerto foi cantado em brasileiro, percebendo-se numa voz educada a predilecção de Nacarato pelos ritmos do país irmão. Ao lado de composições como “O Mundo é um Moinho” - um tema de Cartola, do álbum homónimo (1976) e que Gisela João integrou em “Nua”, o seu último trabalho -, “Tô” de Tom Zé, “Sorri” (“Smile”) de Charlie Chaplin, adaptado por Djavan, ou “A Rita”, dos primórdios de Chico Buarque enquanto cantautor, o público recordou ainda “Onde Anda Você”, um tema de Vinicius de Moraes que terá tornado conhecido o jovem cantor e arrebatado corações na quinta edição do “The Voice Portugal”, dando mesmo lugar a um vídeo que se tornou viral na internet. Ao piano, Miguel Araújo fez questão de lembrar o Natal que se avizinha, interpretando “The Christmas Song” de Bob Wells e Mel Tormé, e houve lugar ainda a uma surpresa com “O Catavento da Sé”, um tema da autoria de Araújo e que António Zambujo incluiu no seu novíssimo álbum, “Do Avesso”. Uma última palavra para “A Dança”, composição escrita e interpretada por Tiago Nacarato e que foi o primeiro single do disco que se avizinha. À semelhança de “Tempo”, este foi um dos poucos momentos que valeram realmente a pena num concerto “lindinho, limpinho e bonzinho”. Mas que não foi além disso!

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